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Quem foi Melanie Klein e sua importância para a psicanálise
Melanie Klein foi uma psicanalista austríaca que revolucionou a teoria psicanalítica ao desenvolver a abordagem das relações objetais. Melanie Klein começou a fazer terapia com Sándor Ferenczi, com quem descobriu sua vocação para ser psicanalista. Desde cedo, Klein passou por diversas perdas pessoais, como a morte de sua irmã Sidonie, em 1887, a morte do pai em 1900 por pneumonia e a morte do irmão Emmanuel, em 1902, de cardiopatia.
Seu trabalho focou no estudo do desenvolvimento psíquico infantil e introduziu conceitos fundamentais, como as posições esquizo-paranoide e depressiva. Antes de Klein, os pacientes com estrutura psíquica predominantemente psicótica eram tidos como inanalisáveis por Freud.
A teoria kleiniana é amplamente utilizada na clínica psicanalítica, ajudando a compreender tanto a dinâmica psíquica das crianças quanto os conflitos emocionais dos adultos.
As relações objetais e o desenvolvimento psíquico
A teoria das relações objetais propõe que o desenvolvimento emocional ocorre a partir das interações do bebê com os objetos primários (geralmente a mãe ou o cuidador). Klein sugeriu que, desde os primeiros meses de vida, o psiquismo se organiza em torno dessas experiências primárias, que moldam a maneira como o sujeito se relacionará consigo mesmo e com os outros.
Diferente da visão freudiana tradicional, que enfatiza o desenvolvimento psíquico a partir das fases do desenvolvimento libidinal, Klein demonstrou que os bebês já possuem uma intensa vida psíquica desde os primeiros dias de vida. As experiências emocionais iniciais, principalmente as interações com o seio materno, são fundamentais para a construção da personalidade futura. O bebê não apenas recebe estímulos do mundo externo, mas também projeta nele suas angústias, desejos e fantasias inconscientes.
Principais pontos sobre as relações objetais:
- O bebê projeta sentimentos e fantasias nos objetos primários: Isso significa que, em um primeiro momento, ele não enxerga a mãe ou o cuidador como uma pessoa completa, mas sim como um conjunto de partes boas ou más. Por exemplo, o seio que alimenta e conforta é visto como “bom”, enquanto o seio que não está disponível é percebido como “mau”.
- As primeiras relações influenciam o desenvolvimento da identidade e das emoções: A forma como o bebê vivencia suas primeiras interações afetivas molda sua forma de perceber o mundo e de se relacionar com os outros ao longo da vida.
- O equilíbrio entre experiências boas e más impacta a estrutura psíquica futura: Quando há uma predominância de experiências boas, o bebê pode desenvolver um senso de segurança emocional. Já experiências predominantemente frustrantes podem gerar angústias intensas e dificuldades emocionais futuras.
Na clínica, esse conceito auxilia na compreensão de pacientes com dificuldades relacionais, ajudando a analisar como suas experiências precoces influenciam padrões emocionais e comportamentais. Muitas dificuldades emocionais na vida adulta, como baixa autoestima, dificuldades em confiar nos outros ou padrões de relacionamentos destrutivos, podem ter suas raízes nas primeiras relações objetais.
As posições esquizo-paranoide e depressiva
Klein identificou duas fases fundamentais no desenvolvimento psíquico, chamadas de posições esquizo-paranoide e depressiva:
Posição esquizo-paranoide
- Ocorre nos primeiros meses de vida.
- O bebê percebe o mundo de forma dicotômica: “bom” e “mau”.
- Usa mecanismos de defesa como cisão, identificação projetiva e negação para lidar com angústias intensas.
- Exemplo clínico: pacientes que vivenciam relações interpessoais de forma extrema, oscilando entre idealização e desvalorização.
Nesta posição, o bebê projeta suas angústias e desejos no objeto materno, criando um mundo interno fragmentado entre objetos bons e maus. Quando experimenta frustração, o bebê pode desenvolver sentimentos persecutórios, acreditando que o objeto “mau” quer lhe fazer mal. Esse estado psíquico não é exclusivo da infância, podendo ser observado em adultos que apresentam comportamentos paranoicos ou dificuldades em integrar aspectos positivos e negativos das pessoas ao seu redor.
Posição depressiva
- Surge por volta dos seis meses de vida.
- O bebê começa a integrar aspectos bons e maus do objeto, percebendo-o como inteiro.
- Aparecem sentimentos de culpa e a necessidade de reparação.
- Exemplo clínico: adultos que enfrentam crises de culpa excessiva ou dificuldades na aceitação de falhas e limitações.
À medida que o bebê amadurece emocionalmente, ele começa a perceber que o mesmo objeto que o frustra também é aquele que o satisfaz. Esse reconhecimento gera sentimentos de culpa e preocupação com o objeto amado, levando a um desejo de reparação. A capacidade de integrar essas experiências é fundamental para o desenvolvimento da empatia e da resiliência emocional.
Essas posições não são fases fixas, mas estados psíquicos que podem se alternar ao longo da vida, sendo fundamentais na compreensão dos processos emocionais. Em momentos de estresse, perda ou frustração, um indivíduo pode regredir temporariamente para uma posição esquizo-paranoide, voltando a enxergar o mundo de maneira polarizada e repetindo sintomas. A capacidade de retornar à posição depressiva e elaborar os sentimentos de forma mais madura é um indicador de saúde emocional.
Aplicações práticas da teoria kleiniana na clínica
A teoria de Melanie Klein tem impacto direto no trabalho clínico, especialmente na psicanálise infantil. Alguns exemplos práticos incluem:
- Psicanálise de crianças: Melanie Klein foi pioneira no uso da brincadeira como ferramenta de análise, permitindo que conteúdos inconscientes emergissem. Por meio dos jogos, desenhos e interações lúdicas, a criança expressa seus conflitos internos, permitindo ao psicanalista interpretar suas angústias e fantasias inconscientes. Esse método é amplamente utilizado na psicoterapia infantil até hoje.
- Transtornos de personalidade: O conceito de identificação projetiva ajuda a entender dinâmicas de pacientes com dificuldades relacionais intensas. Em indivíduos com transtornos de personalidade, como o borderline, a dificuldade em integrar aspectos bons e maus do outro pode levar a relações instáveis e reações emocionais extremas. A compreensão desses mecanismos auxilia na construção de intervenções terapêuticas mais eficazes.
- Depressão e culpa: A posição depressiva auxilia na compreensão de sentimentos de culpa e na busca por reparação em adultos. Pacientes com depressão podem ter dificuldades em lidar com a ambivalência emocional, sentindo culpa excessiva e dificuldade em aceitar suas próprias limitações. A teoria kleiniana oferece um arcabouço teórico para entender essas questões e trabalhar a integração psíquica.
Além dessas aplicações, a teoria de Melanie Klein é amplamente utilizada para compreender dinâmicas familiares, conflitos internos e dificuldades emocionais que se manifestam ao longo da vida.
Conclusão
A teoria kleiniana continua essencial para a psicanálise moderna, influenciando abordagens clínicas e ampliando a compreensão sobre o desenvolvimento emocional. Se você deseja aprofundar seus estudos ou iniciar um processo terapêutico com uma psicanalista kleiniana, agende uma sessão com a psicanalista Andressa Cardoso e descubra como a psicanálise pode transformar sua vida!

Psicanalista kleiniana pelo Instituto Hauss-Berggasse, bióloga e mestre em Ciências.